Samba sem conservantes nem aditivos. Curtido em madeira nobre, temperado com o perfume sublime do couro. Ao sorvermos este Samba de gole em gole, incensamos nosso espírito que vagueia rumo à felicidade suprema. Bebam, e sejam eternos.



sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vanzolini é Um Homem de Moral

(compartilhado de Eugênia Rodrigues, da Tribuna do Samba-Choro)


Na primeira semana de junho estréia o documentário sobre o sambista paulistano e zoólogo Paulo Vanzolini.

O cineasta Ricardo Dias (foto à direita), diretor do filme, fala sobre este seu trabalho mais recente.

Assim como Vanzolini que se divide entre a paixão pela Zoologia e o Samba, Ricardo Dias se divide entre a sétima arte e a Biologia. Foi ele quem dirigiu os primeiros 67 programas da primeira fase do Globo Ciências.

Assista, antes, o trailer promocional desta obra-prima.

Com a Palavra Ricardo Dias:

"Um Homem de Moral é um filme sobre a música de Paulo Vanzolini. Sobre o Paulo Vanzolini. Sobre a cidade do Paulo Vanzolini. Ele acabou chegando a esses três conteúdos, eu diria.

Eu poderia ter feito este filme, sei lá, há vinte anos atrás. Eu poderia ter tido essa idéia, porque é o tempo desde quando eu tenho uma convivência íntima com o Vanzolini, muito próxima. Eu fiz filmes com ele como zoólogo. Eu o conheci quando eu era menino, uma coisa que eu coloquei no filme. Meu pai conhecia o Vanzolini. Meu pai, provavelmente foi aluno do pai do Vanzolini... Tem toda uma relação, uma história longa por trás dessa proximidade nossa.

E o filme saiu a partir dessa convivência. Foi quando eu fiquei sabendo do projeto, Acerto de Contas de Paulo Vanzolini. A coleção de CDs que ele ia gravar, finalmente, depois de muito tempo... E eu, quando soube disso, e quando eu soube que ninguém estava fazendo um making of da gravação do CD, eu falei: "Deixa que eu faço."

Quando aconteceu o espetáculo, a Zita Carvalhosa, da Superfilmes, produtora deste filme (com a 24 VPS), sabia do projeto, sabia que eu estava fazendo aquilo, mas até este momento ela não era minha parceira no projeto. Aí eu falei com a Zita, falei: "Olha Zita, vai acontecer o espetáculo, eu quero gravar. Mas só que agora eu quero gravar direito. Eu preciso levar três câmeras. Eu não posso gravar da maneira que eu estou fazendo a documentação das gravações. Aí a Zita: "Tá legal, vamos lá."

Eu chamei meus amigos fotógrafos. Chamei o Lauro Escorel, chamei o Alemão, o Hélcio Nagamine. A Tide e a Lia, minhas amigas também, técnicas de som. Falei: "Olha, vocês topam gravar assim, em consignação? Quem sabe isso vira um filme..." Felizmente, essas pessoas também foram muito generosas. E aí, aí realmente eu passei a ter uma coisa que fazia sentido. Dava pra juntar bastante coisa. E aí saiu a premiação, para a produção de um longa metragem. Aí, como saiu isso, claro, eu: "Espera aí, vamos crescer, vamos fazer virar um longa metragem mesmo. Como é que eu faço isso? Eu preciso gravar imagens com qualidade. Eu preciso fazer uma parte documental. Eu preciso fazer todo um trabalho adicional, pro filme virar filme."

Isso é uma coisa que me encanta, eu gosto... Porque é um filme muito paulista, muito paulistano. O Vanzolini é muito paulista, muito paulistano. Bairrista até mais não poder. E é um filme que foi viabilizado pelo poder público do Estado e da Prefeitura.

O fotógrafo Adrian Cooper, com quem eu trabalhei no meu primeiro longa, No Rio das Amazonas... [filme sobre o trabalho de Vanzolini como cientista especialista em serpentes] Tomando cerveja num bar com o Vanzolini, o Adrian uma hora chegou pra mim e disse: "Ricardo, por que você não faz um filme sobre isto? Por que você não filma isto aqui? Essa conversa... o Vanzolini assim?"

Ninguém fala do Vanzolini melhor do que ele próprio. Claro que é verdade. Não precisa... O Vanzolini é muito carismático, ele fala muito bem dele mesmo. Pra quê que eu vou perder tempo pegando a opinião de outras pessoas? Claro que vai ser interessante... Mas nunca vai ser tão interessante quando ele próprio, não é?

Então isso a gente fez, em duas sessões. Gravamos, sei lá, umas duas horas e tanto de conversa, que tem muita coisa mais... Nessa conversa ele conta histórias dele como zoólogo, um monte de coisas também. Não é só... ele não fala só de música. Mas eu tava particularmente interessado na parte de música. Antes de filmar a parte documental eu montei os musicais e depois com o material documental, complementamos a montagem. Tem dois momentos. Eu trabalhei com o Marcello Bloisi, que é meu montador há muitos anos.

Desde o momento em que eu gravava, quando eu estava no estúdio gravando, me veio a lembrança de um filme que foi muito importante na minha formação, que é Woodstock. Que é um musical. E eu lembrava que Woodstock tinha aquela coisa de telas divididas. E eu lembro que o meu primeiro dia de edição com o Marcello, eu comprei o DVD de Woodstock, e a gente passou quatro horas vendo Woodstock. A gente não montou uma cena. A gente não fez nenhum corte no filme. A gente ficou vendo Woodstock.

Ouvindo as músicas, como eu ouvi. No estúdio, ali, naquela situação particular, eu achei interessante que as músicas entrassem inteiras. Que eu não interrompesse uma música pra fazer um comentário, pra fazer uma entrevista. Isso pra mim era uma regra a ser seguida. E na questão de como ilustrar, pra inclusive fazer as passagens serem mais agradáveis e fluentes e bonitas, a idéia foi trabalhar com a idéia que abre o filme... O Vanzolini fala sobre a cidade, São Paulo. É provavelmente a grande fonte de inspiração dele... Da cidade e do povo: "Do povo, de cada um pessoalmente eu não gosto, mas do povo em geral eu gosto muito." Foi isso que eu falei pro Ebert quando a gente foi gravar as imagens, quando a gente saiu, pelas ruas de São Paulo, numa época muito favorável. Eu queria uma época em que estivesse chovendo. Era importante ter as ruas molhadas, ter aquela atmosfera de chuva, que eu acho que combina com a cidade. E a gente pegou a segunda semana de janeiro, em que a cidade está bem vazia. Então foi muito fácil transitar pela cidade e fazer aquela documentação, aquele registro todo. Da cidade e do povo.

Fazendo o filme que eu fiz antes deste, o curta metragem Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba, que eu fiz com o Thomaz Farkas. O Thomaz que era amigo do meu pai, que é amigo do Vanzolini, que tem uma proximidade grande. E eu, quando fui fazer o Pixinguinha, eu conheci muito de perto arquivo fotográfico do Thomaz. Eu vi que ele tinha ali um material maravilhoso. E aí eu falei: "Thomaz, olha eu estou fazendo um filme... Você tem imagens, tem fotos do centro de São Paulo nos anos 40 e 50, esse período em que o Vanzolini compôs muito. Eu gostaria de ver..." "Tá aí, pode olhar à vontade". Eu fui, encontrei essas imagens, elas estão no filme... É um privilégio você ter um sujeito lendo um jornal, no final da década de 40, na avenida São João, não é? Junto com "Cena de sangue num bar da avenida São João". Aquela foi feita pra eu usar 50 anos depois.

Boca da Noite foi das emoções fortes que eu diria... Foi no meu segundo dia de gravação, dentro do estúdio. A Márcia cantando, e ali me veio o universo poético do Vanzolini dentro daquela música, porque eu já viajei com ele. E eu vi aqueles personagens, não é? "Cheguei na boca da noite, sai de madrugada". Eu vi o caminhoneiro, eu vi a mulher que ele encontra na noite, na estrada e tal. E aí eu até pensei em fazer assim: " Eu vou filmar essas pessoas.... Não vai dar certo. A filmagem é muito invasiva, as pessoas vão ficar constrangidas. Eu não vou conseguir faze esse material funcionar.”

Mas aí, por acaso, realmente por acaso, eu pensei, acho que eu vou fazer fotos. E eu comentei isso um dia com o Bob Wolfenson, que é meu amigo. Eu tava em uma festa de amigos: "Eu vou fazer uma sequência..., estou fazendo um filme de fotos, de fotografias. Eu estou usando vários materiais, estou usando fotos do Thomaz e tal..." Ele falou: "Se você quiser eu faço as fotos pra você." Ele se ofereceu, não é? Eu falei: "Claro, vamos lá." Encontramos as pessoas. Em uma tarde a gente fez aquelas fotos, e é uma das sequências que eu mais gosto do filme. Ela joga bem dentro daquele universo, da música mesmo, da poesia daqueles personagens. Que são anônimos, mas que ao mesmo tempo são muito ricos. É como a música do Vanzolini mesmo.

Deu muito trabalho fazer o som deste filme. Mas o resultado me deixou muito satisfeito. Eu realmente gostei muito de ouvir o filme. Acho que é um filme que se ouve muito bem. Eu sabia que dentro do estúdio eu estava tranquilo. As gravações dentro do estúdio, tudo bem. Eu estou em um ambiente controlado, é estúdio, não tem ruído, a qualidade do som é boa. Ali eu estou tranquilo. Os ensaios, complicados. Os ensaios lá na casa do Vanzolini; barulho, eco, gente, confusão. Como é que faz? Vamos lá, vamos ver. Vamos ver o que dá pra melhorar.

O espetáculo? O espetáculo foi gravado em dois canais, na mesa de som do técnico do espetáculo. A gente não teve nenhuma interferência. Não tinha uma mesa com 20 canais, pra gravar cada instrumento separado. Não, a gente trabalhou ali, com as condições que tínhamos. E isso tudo a gente trouxe aqui pra este estúdio, a Input. E foi feito um trabalho incrível de recuperação... Tem momentos inclusive, tem situações em que a gente precisou até refazer. A gente editou, e aí eu cortava a música e sincronismo... Eu chamei os músicos pra me ajudar. A participação do Italo Peron, do Alexandre, do Rafa, de todo mundo que foi lá. E do Fernando Henna, que é o editor de som do filme, que é músico também. Pessoas da área, são músicos fazendo cinema. Sobre um músico que não é músico.

Originalmente o título do filme era – eu não tinha um nome, era Acerto de contas de Paulo Vanzolini, o filme. É um bom título este do DVD, é um título muito bom. E aí, eu não tinha um título pro filme. Eu falei: "É esse... o filme". Aí, um dia ele estava comentando de uma tese de uma estudante de pós graduação de letras, de Goiás, a Ludmylla Lima, que fez uma tese sobre o samba. No capítulo Paulo Vanzolini ela tenta explicar o Paulo Vanzolini. Ela fala que é um enigma, é muito difícil explicar uma pessoa com as características dele. Mas, de certa forma, resumindo, ele é um homem de moral. Quando ele falou isso eu falei: "Pronto, achei o título. Até que enfim eu tenho um nome pra esse filme." E a partir do momento do momento que eu tive o nome, tudo aconteceu.



AVISO AOS ALAMBIQUEIROS E TRIBUNEIROS DE FÉ E DE COPO:

Até domingo, 31 de maio, a Rádio Samba de Alambique está com programação especial sobre a música de Paulo Vanzolini, intercalada com outros dois Paulos geniais: Paulinho da Viola, Paulo da Portela e Paulo Cesar Pinheiro.

Sempre a partir das 11h até a última gota, ôps!, quer dizer até a última nota deste nosso alambique musical.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

PC Pinheiro está detonando no Alambique!!!

A Rádio Samba de Alambique está com uma programação pra lá de especial. Desde as 11h da manhã desta sexta-feira, e estendendo-se pelo sábado e domingo – sempre a partir das 11h – o domínio absoluto da audiência será do compositor Paulo Cesar Pinheiro, que festejou 60 anos no último dia 28 de abril.

Para Ary Marcos, responsável pela pesquisa e seleção musical, a colocação deste programa no ar é uma realização ansiada há meses. “Já faz tempo que eu estava querendo dar este presente a todos os alambiqueiros e taberneiros de fé e de copo. O Paulinho é imprescindível para quem quer conhecer a História da Música no Brasil. Sua produção de letras é oceânica; ninguém botou mais versos em músicas do que ele. Graças aos deuses cheguei a um ponto da minha pesquisa que permite eu começar a compartilhar com o público”, comemora Ary Marcos.

E a exaltação a Paulo Cesar Pinheiros não pára por aí. Ary planeja uma roda de samba em homenagem ao artista, quando ele passar por São Paulo.

“Estudar a obra do Paulinho é de tirar o fôlego”, garante Ary Marcos. “Foi uma das coisas mais prazerosas que já fiz. Parece não ter mais fim. Você vai descobrindo novos parceiros a cada instante. Até o momento já cataloguei 54 diferentes parceiros, de todos os ritmos e matizes”, conta Ary.

A primeira parceria profissional de PC Pinheiro foi com Baden Powell, quando o poeta tinha apenas 16 anos de idade. Hoje ele acumula mais de 1.500 composições.

A pesquisadora Conceição de Campos Souza fez sua dissertação de Mestrado intitulada A Letra Brasileira de Paulo César Pinheiro – Literatura e Identidade Cultural. Este estudo acadêmico concluiu que em janeiro do ano 2000 Paulo Cesar Pinheiro estava com cerca de 700 músicas gravadas (com as regravações chega-se perto de mil) por aproximadamente 120 intérpretes. Logicamente, nos últimos nove anos este número subiu. PC Pinheiro tem cerca de 30 novas músicas gravadas a cada ano.

Com esta criatividade caudalosa, algumas pessoas propõem que Paulo Cesar Pinheiro seja inscrito no Livro de Recordes.

Leia abaixo uma das melhores entrevistas feitas com o autor por Nana Vaz de Castro para o site Cliquemusic.

Enquanto você lê, vá ouvindo as obras primas de Paulinho aqui.

Inicialmente Ary Marcos programou 390 músicas de PC Pinheiro para tocar. Este número pode crescer daqui para domingo. “Tô correndo atrás de sebos, arquivos de amigos, minha catalogação da obra do Paulinho virou obsessão. E vou despejar tudo aqui no nosso Alambique do Samba”.


Os instrumentos poéticos de Paulo César Pinheiro


Por Nana Vaz de Castro

(27.nov.2000)


Com cerca de 1.500 músicas na bagagem, Paulo César Pinheiro pode dizer que já mapeou musicalmente o Brasil – pelo menos naquilo que define como "essencialmente brasileiro", que surge como resultado da mistura entre brancos, índios e negros. Mistura essa que já escalou as paradas de sucesso com o Canto das Três Raças (samba de Paulinho e Mauro Duarte sucesso na voz de Clara Nunes) e que agora volta a ser tema para o poeta e letrista, no livro Atabaques, Violas e Bambus (Record, 240 págs., R$ 24).

Emendando um projeto no outro, a máquina poético-musical de Pinheiro não pára de produzir. O volume chegou a tal ponto e importância que saiu dos discos e rodas de samba para os círculos acadêmicos. Só para ter uma idéia, agora em Pernambuco os cadernos escolares trazem no verso, ao lado do Hino Nacional, sua parceria com Lenine, Leão do Norte, que virou um hino informal do estado. Além disso, a pesquisadora Conceição de Campos Souza está atualmente reescrevendo sua dissertação de mestrado, "A letra brasileira de Paulo César Pinheiro – literatura e identidade cultural", para publicar e, formato de livro no ano que vem. "A Conceição organizou a minha vida", diz Pinheiro.

E haja organização. Pelas contas da pesquisadora, eram 1.400 músicas até janeiro de 2000 – umas cem já foram escritas desde então – com mais de cem parceiros diferentes, umas 700 delas gravadas e regravadas, totalizando mais ou menos 900 registros fonográficos feitos por mais de 120 intérpretes, em quase 300 discos diferentes.

De sua ampla casa em uma região afastada da Barra da Tijuca (Rio), cercada de árvores, passarinhos e muita tranqüilidade, Paulo César Pinheiro fala do novo livro, de sua rotina de trabalho, e da preocupação com que vê a falta de novos letristas no Brasil.

CliqueMusic – O seu livro é divido em três partes, "Atabaques", "Violas" e "Bambus". Você planejou essa divisão?

Não, isso tudo nasceu naturalmente. Nasceu a partir do primeiro poema do livro, "Atabaques, violas e bambus", que não está em nenhum dos três blocos. Quando eu fiz esse poema, entendi que podia haver essa divisão literária. Me lembrei do Canto das Três Raças ouvir 30s, me deu a idéia. Eu já tinha algumas idéias escritas da poesia dos negros e coisas falando das violas do Brasil. De índio, não tinha nada. Aí fui fazendo naturalmente, complementando essas duas linguagens, dos negros e dos brancos. Quando pensei nos índios, não sabia bem ainda o que fazer. Peguei algumas coisas que falavam um pouco disso e compus o livro. Depois comecei a refazer tudo. Esse me livro me deu trabalho, passei dois anos trabalhando nele.

É a retomada de uma tradição literária brasileira interrompida?

Tem uma poesia que foi feita na década de 30, 40, no Brasil e que ficou esquecida no tempo, não sei por quê. A do Raul Bopp, que fez Cobra Norato, a do Cassiano Ricardo, com Martim Cererê, a do próprio Mario de Andrade, com Macunaíma. Como eu conheço bastante folclore brasileiro, me lembrei de algumas lendas e mitos indígenas dos livros do Câmara Cascudo – até por isso o livro dedicado a ele e ao João Felício dos Santos, que era um romancista histórico, e que me ajudou muito na terminologia dos negros, também. Reli o que havia de mitos e lendas, e comecei a trabalhar em cima disso. Esqueci o resto do livro e fiquei trabalhando sobre a parte dos bambus. Desenvolvi em forma de verso essas histórias que eu conhecia, a tradição tupi guarani. Depois de pronto, fui reaprontar as duas outras partes. Ou seja, foi tudo de trás pra frente.

A parte dos índios foi a que te deu mais trabalho?

Foi. Era a que eu tinha menos familiaridade. A parte dos negros está muito presente na minha música, era algo que eu já dominava. A dos índios eu só conhecia, mas nunca tinha sentado para escrever sobre o tema. É algo meio estranho, porque eu ponho isso na cabeça e é como se eu fosse tomado por uma entidade, eu viro aquilo, eu sou aquilo. Meu processo de criação é sempre assim. Por isso é que eu tenho essa diversidade de parceiros. Tem gente que se impressiona com isso, pergunta "Como é que pode? De repente faz um samba de breque sincopado com João Nogueira, depois um canto nordestino com Sivuca, um afoxé com Edil Pacheco?". São diversas formas diferentes de compor e escrever, você tem que entrar naquilo mesmo. Parece que são entidades que entram em mim.

Com tanta reflexão a respeito, as pessoas estão olhando mais para dentro do Brasil?

Ainda há uma lacuna muito grande. Houve uma ditadura militar, que gerou uma massificação muito grande, hoje há uma ditadura econômica que é tão ruim ou pior que a militar. As pessoas têm que sobreviver e aí fazem concessões, depois acabam acreditando que essas concessões são a verdade e acabam esquecendo que há coisas a fazer e que não foram feitas. Espero que o livro ajude a despertar esse lado. O choro, por exemplo – que costumam dizer que é o jazz brasileiro, mas que na verdade acho que é o contrário, o jazz é o choro americano, porque é anterior ao jazz – não tem aqui a importância que tem o jazz lá fora. É uma música tipicamente brasileira ainda restrita a um gueto.

Você enxerga uma melhora nesse sentido? Não que o choro vá virar uma música das massas, mas de 15 anos pra cá, as pessoas mais novas estão despertando mais para essa música, mais do que na década passada e retrasada?

Sim, também acho. Isso se deve ao caminho independente, e com a tecnologia que hoje existe, está mais fácil trabalhar do que antes, quando se dependia só das multinacionais para fazer um disco. Esse truste das multinacionais fazia com que eles ditassem as regras do jogo. Isso não deixou de acontecer, mas agora que é mais barato e mais fácil fazer um disco, muita gente está fazendo e os mais novos estão tendo mais oportunidade de conhecer outras músicas. Os jovens estão fazendo as coisas nos computadores. Pelo lado alternativo todo mundo pôde entrar e conhecer o que não é possível conhecer pelos meios normais.

Você tem cerca de 1.500 letras de músicas escritas e lança agora seu terceiro livro de poesias. Por que a discrepância de volume?

– Não há discrepância. São três livros publicados, e cinco na gaveta. Este está sendo o primeiro do que eu espero que seja uma série na Record. Estou satisfeitíssimo com o trabalho que a editora fez com este livro. Um tratamento de primeira, capa linda, papel bom, me trataram com um esmero que eu nem esperava. Nunca parei de escrever. Ao mesmo tempo que compunha música ia escrevendo minhas poesias quieto, sem procurar ninguém, sem me preocupar com livro. Um dia, quando comecei a mexer nas coisas para este livro especificamente, fui ver as outras coisas, ver se algo se encaixava para incluir. Aí fui separando e vendo que há tanto material, suficiente para outros cinco livros, já praticamente prontos: um só com poemas sobre o mar, chamado Clave de Sal; um de sonetos, intitulado Cem Sonetos Sentimentais para Violão e Orquestra; Poesia de Música; Canções Ocultas; e um quinto ainda sem título

Todos títulos musicais…

Grande parte do que eu escrevo é muito musical. Eu componho de diversas maneiras com diversas pessoas. Na maior parte das vezes eu faço letra para a música pronta, mas muitos dos meus parceiros gostam de musicar uma letra pronta. Como eles sabem que eu escrevo em grande quantidade, me pedem muitas coisas para musicar. Assim fui percebendo que tudo que eu escrevia era música também, era sempre música, a música está muito dentro de tudo isso. Então comecei a intitular os livros de maneira que lembrasse música também. Todos eles têm uma palavra ou idéia que relacione as duas coisas, é indissociável na minha obra.

Quando você escreve algo, qual a distância que existe entre o poeta e o letrista? Você já começa pensando se vai escrever um poema ou uma música?

Isso é muito complicado de explicar. Quando comecei a escrever poesia de livro, de papel, não pensava em música, apenas escrevia. Depois comecei a perceber que com a musicalidade que havia dentro de mim, aquilo não precisaria ser mudado se algum dos meus parceiros quisesse musicar. Às vezes existem em certos poemas palavras que são mais literárias do que musicais. Então comecei a praticar conscientemente esse equilíbrio entre poesia e música, de forma que não precisasse ser alterado. Procurei chegar ao ponto em que, de qualquer lado que eu produzisse, o resultado pudesse ser igualmente lido ou cantado, que não houvesse mais essa diferença.

Há uma polêmica de algumas correntes literárias que dizem que letra de música não é poesia. Algumas letras podem até não ser poesia, ou seja, são fortemente poesia quando cantadas, e não quando lidas. A música tem mais poder que a poesia nesse momento. Um dia, no auge dessa polêmica sobre se letra de música é poesia ou não, um jornalista perguntou ao Chico Buarque a opinião dele a respeito – e, bem, se o que o Chico faz não é poesia, eu prefiro parar. A resposta dele foi: "Quando musiquei a poesia do João Cabral de Melo Neto [Morte e Vida Severina], quando o poema virou letra de música, deixou de ser poema?". Ou seja, essa polêmica no fundo não tem sentido. Eu acho que o caminho da perfeição é tentar chegar nesse limite, no fio do arame do equilíbrio total, que é ler e dizer "isso é poema de livro", e depois transformar em música sem ter que mexer em nenhuma palavra, de tão sonoro que é. Pra mim essa é grande perfeição atrás da qual eu corro.

Quem são seus letristas preferidos?

Chico Buarque, disparado, Noel Rosa, Caymmi – que, com sua simplicidade peculiar, é um mestre da palavra, do som, da sonoridade, da idéia fechada, do trechinho… ele fala em uma música deste tamanhinho tudo o que a gente queria dizer –, Vinicius, que foi, no meu início de vida literária, meu mestre maior. Sua poesia é refinada, maravilhosa. Em um samba-canção que fiz com o Sergio Santos, que é um dos meus parceiros mais novos, fala disso em um trecho: "Meus livros de cabeceira/ Drummond, Vinicius, Cecília/ Cabral, Pessoa e Bandeira". São esses os poetas de livros que me encantaram.

Mas Chico, Noel e Caymmi ficaram também muito conhecidos pela sua excelência musical, como compositores e não apenas letristas. A figura do letrista é rara no Brasil.

Não só rara como em extinção.

Na sua principal área de atuação, o samba, o choro, a música eminentemente brasileira, há muita gente nova e boa, ainda que pouco conhecida, é um ambiente que se renova, em que novos nomes surgem, mas os letristas não. Tanto que o pessoal das novas gerações continua fazendo letra com você.

Pois é, os letristas são sempre os mesmos, eu, Aldir Blanc, Abel Silva, Vítor Martins… E os que vão morrendo não são substituídos. Cacaso, Tite de Lemos, Torquato Neto, todos morreram e não foram substituídos, essa falta de renovação me apavora. Eu torço o tempo inteiro e sinto muita falta de novos letristas. Eu já estou na quinta geração de parceiros.

Quinta geração?

É o seguinte: a minha geração é a do Dori, do Francis, do Milton, Chico, Caetano, Gil, Theo de Barros, é a geração dos anos 60. Só que eu comecei muito menino, então tenho diferença de mais de cinco anos para cada um desses. Quando eles tinha 18, 19, eu tinha 13, 14, e já estava fazendo, portanto sou o caçula. Mesmo assim, comecei compondo com gente que era de uma geração ainda mais velha que a deles, que foi por exemplo o Baden Powell, que já era referência desse pessoal, e foi com quem eu comecei. Por causa disso, com o Baden conheci os mais velhos, que eram referência dele, Baden: os chorões e sambistas mais velhos. Através do Baden conheci os mais velhos e me tornei parceiro deles ao mesmo tempo em que me tornava parceiro dos meus contemporâneos. Fiz música com Pixinguinha, Radamés Gnattali, Alcyr Pires Vermelho, o velho Mirabeau, Ribamar, que foi parceiro da Dolores Duran, pessoas de uma geração que hoje teria de 80 a 100 anos de idade. Depois é que veio a geração do Baden: Tom, Carlinhos Lyra, Menescal, Tito Madi, Elton Medeiros, uma geração que hoje está chegando aos 70 anos. Depois tem a minha geração, que inclui além dos já citados, Cristóvão Bastos, João Nogueira, Mauro Duarte, muita gente, eu sempre esqueço de alguns e depois eles reclamam. Depois tem a geração da Luciana [Rabello, esposa de Paulo César], que é abaixo da minha, e inclui ela, Mauricio Carrilho, Pedrinho Amorim, Sergio Santos, Raphael Rabello. E a quinta é uma garotada, que tem menos de 30, como o Mario Gil, que gravou um disco (Contos do Mar ouvir 30s) só com músicas da nossa parceria.

Muitas vezes, em discos instrumentais, porque o músico não canta a letra, não colocam no disco o nome do letrista, como se não tivesse a menor importância. Há um desprestígio do letrista?

Muitas vezes o letrista participa da composição da música, da melodia. E muitas vezes quando alguém lembra de uma frase de música, diz: "E como dizia Milton Nascimento, ‘a gente precisa ir aonde o povo está’". Não foi o Milton Nascimento que disse isso, foi o Fernando Brant! O letrista é ele, o dono das palavras é ele. Isso é muito chato. Por isso acho importante o letrista fazer shows, mostrar seu trabalho, se mostrar ao público.

Como é sua rotina de trabalho? Você compõe sambas em mesa de bar?

Não. Eu tenho uma disciplina de trabalho, só escrevo pela manhã. Acordo cedo, leio jornal, sento na minha mesa por volta de 8 horas da manhã e vou até mais ou menos uma da tarde. Às vezes não é nada, só o exercício, a prática, como um instrumentista. Isso é bastante regular na minha vida, sou disciplinado para isso, e escrevo nessas manhãs. Como é um trabalho mental, muito cansativo, vai chegando o final do dia eu não quero mais pensar. O que não quer dizer que eu só crie nesses momentos pela manhã. Às vezes num final de tarde, de noite ou de madrugada as idéias me vêm, mas aí não tenho muita paciência de sentar para escrever.

Você anota essas idéias?

Não, guardo na cabeça, para o dia seguinte. Quando amanheço elas vêm em borbotão, parece uma cachoeira.

E nunca esquece?

Não. Muitas vezes estou na rua e me vem alguma idéia, mas não escrevo em canto nenhum, eu guardo na cabeça. Eu só escrevo quando sonho. Acordo no meio da noite, e, se não escrever a idéia dança. É um trabalho brutal, porque você não descansa. Eu deito, vem aquela sonolência, o corpo nem tem muita força de levantar da cama, mas não adianta, tenho que levantar e escrever, se não esqueço.

A sua memória é boa também para outras coisas, nomes, datas, telefones, ou só para idéias?

Só pra isso. Das quase 1.500 músicas que já escrevi, eu me lembro das músicas de todas, às vezes mais que os meus parceiros, mas de muitas eu não lembro da letra. Lembro de músicas que meu parceiros não sabem mais, mas as letras esqueço, aí tenho que ir nos rascunhos e olhar.

Você toca algum instrumento?

Quando eu comecei, com 13 anos, aprendi um pouquinho de violão. Aí comecei a fazer música com João de Aquino, meu primeiro parceiro, que era violonista. Depois passei pro Baden, que era violonista. Depois Raphael Rabello, que era violonista. Helio Delmiro, violonista. Guinga, violonista. Aí eu nunca mais peguei o violão, e me ressinto disso. Tenho um grande remorso de não ter prosseguido, não pra me tornar um grande instrumentista, mas para me lembrar, para me ajudar na minha música. Ter parado foi ruim pra mim, até porque eu também componho música, e muitas vezes preciso do violão.

Como você compõe música?

Na cabeça.

E a parte harmônica?

Bem, aí meus parceiros, quando eu canto pra eles, que já são craques nisso, eles harmonizam e eu sei quando está certo e quando está errado. Quando aparece um acorde que não é o que eu estou pensando, eu digo, e vamos tentando até achar. Isso é o senso harmônico que eu tenho na cabeça. Não foi bom eu ter parado com o violão, mas a parceria com todos esses virtuoses me desmotivou, não dava pra pegar no violão, era uma distância tão grande.

Quais são as suas composições já gravadas, letra e música suas?

A última foi gravada pelo Paulinho da Viola, Alento ouvir 30s. Cristina Buarque já gravou Samba da Ilusão e Reserva de Domínio, que é minha única parceria em que a letra não é minha. A música é minha e a letra é do Mauro Duarte. A Clara [Nunes] gravou três músicas só minhas: Meu Castigo, Ninguém e Rolou. Jair Rodrigues também gravou algumas. Já mais de uma vez eu mandei fita para o Jair com várias músicas de diversos parceiros e apenas uma só minha, e ele escolhe justamente a minha.

Você pretende investir mais nesse lado de compositor de músicas e letras, sem parcerias?

No próximo ano vou lançar um disco pela Acari só com músicas minhas, inéditas e sem parceiro. Eu cantando eu mesmo. Porque eu componho muita música, tenho muitas guardadas. Muita coisa vai sair por agora, no ano que vem. A Acari vai abrir um selo cantado, que vai ser inaugurado pela Amélia [Rabello, com parcerias entre Raphael Rabello e Paulo César Pinheiro]. Depois dela vai ter o disco cantado da Luciana, do Pedro Amorim, do Mauricio Carrilho e do João Lyra, todos cantados. Em todos eles, todas as músicas são comigo, então pode botar aí pelo menos 50 músicas. E caminhos muito distintos entre eles. O do Pedrinho Amorim é um disco só de afro-sambas, o do João Lyra, de gêneros nordestinos...

Você diz que seu ato de criação é solitário. Você sofre escrevendo?

Muito, fico esgotado. Quando é uma coisa muito emocionante eu me acabo, fico pelo menos uns três dias meio acabado, parece que sai muita energia. Tem muita coisa estranha no ato de criar, eu escuto coisas, vejo coisas, sonho com coisas. Passo tudo isso pro papel. Às vezes estou escrevendo e não sei o que estou escrevendo. Acontecem muitas coisas no meio do caminho que são inexplicáveis, e também nem procuro saber. Acho que nesses casos eu funciono mais ou menos como um rádio que está captando as coisas, escrevo e não quero saber.

Quais são os outros projetos em vista, relacionados à sua obra?

São muitos. Cristina Buarque tem um projeto, há mais de quatro anos, de fazer um disco só de músicas minhas. No lançamento do livro em São Paulo, a Alaíde Costa me disse que queria fazer agora em 2001 um disco só com músicas minhas, Alaíde Costa Interpreta Paulo César Pinheiro. A Simone Guimarães também, mandei uma fita para ela, que gostou muito, mas não sei a quantas anda. Tem também minha nova parceria com o Toquinho, compusemos nove músicas para a pela Brasil Outros 500, do Millôr Fernandes, e depois fizemos mais três para completar um disco, que deve sair também em 2001. E a Sinfonia do Rio de Janeiro, com música do Francis e poesia minha e do Geraldinho Carneiro [que será apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro no próximo dia 30].

Devido ao grande volume que a obra hoje tem – porque são quase 33 anos de profissão e uma média de 30 músicas gravadas por ano – eu tenho sido muito regravado ultimamente. Porque hoje as pessoas não fazem mais um disco inteiro de músicas inéditas, usam duas ou três no máximo, eu tenho sido muito regravado, e eu reclamo muito disso, porque eu não queria só ser regravado, eu queria ser gravado, tenho muito material inédito.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Histórias do samba de São Paulo

Livro Batuqueiros da Paulicéia é lançado em quatro apresentações a partir de hoje no Sesc Pompéia

Francisco Quinteiro Pires

(do jornal O Estadão)


O samba de São Paulo sofre de carência. Ele sente a falta de uma bibliografia. Por ser vítima, sabe bem que, quando o passado depende apenas da transmissão oral, a história corre um risco maior de manipulação. Em Batuqueiros da Paulicéia, André Domingues e Osvaldinho da Cuíca contrariam esse fato ao aliar um "relato afetivo", baseado em memórias, ao material consolidado por estudos fundamentais como O Samba Rural Paulista, do modernista Mário de Andrade.

"Quando conversei com o Osvaldinho para o livro, pensei que ele falaria de grandes artistas e seguiria a trajetória consagrada da MPB", diz o pesquisador André Domingues, de 32 anos. "O que ele me contou são detalhes essenciais resgatados por uma memória cercada pelo afeto." Mesmo narrada em primeira pessoa, a obra não se perde na subjetividade ao falar do samba paulista, "um buraco negro" para os pesquisadores.

As entrevistas com o sambista começaram em 2003. Osvaldinho passava por sessões de quimioterapia para tratar um câncer na garganta. Domingues diz que os excluídos da história oficial gostam de romantizar suas trajetórias - têm a necessidade de elevar seus feitos. Segundo ele, em nenhum momento Osvaldinho da Cuíca, de 69 anos, afirmou ser um dos grandes batuqueiros de São Paulo. "Mesmo se tivesse tentado, eu não deixaria que ele puxasse a sardinha", brinca.

Batuqueiros da Paulicéia (Barcarolla, 216 págs., R$ 34) será lançado em quatro shows no Sesc Pompeia, entre hoje e domingo. Foram chamados músicos que representam diferentes momentos do gênero: Carlão do Peruche, Germano Mathias, Thobias da Vai-Vai, Bebeto, Wandi Doratiotto, Celso Viáfora, Bebeto, Fabiana Cozza, Quinteto em Branco e Preto.

A obra se divide em duas seções - Samba de Rua e Samba Profissional. Ela questiona a ideia, hoje consensual, de que o samba-de-bumbo da cidade de Pirapora do Bom Jesus é a semente do samba paulista. Apesar de ser um balaio que reuniu os diversos ritmos trazidos por romeiros, ele é apenas um dos elementos a formar o gênero.

Para entender o "samba autenticamente paulista", é preciso lançar um olhar múltiplo no tempo e no espaço. O gênero mescla influências do samba rural do século 19, da batucada de trabalhadores braçais no Largo da Banana (hoje região do Memorial da América Latina) e dos engraxates do centro, nas primeiras décadas do século 20.

Os autores lembram a importância do rádio, a partir dos anos 1920, na transmissão do samba carioca. A obra aborda o carnaval paulista, marcado pela solidariedade e intrigas. Começando pela marcha sambada dos cordões, ele ressalta a oficialização do carnaval em 1968 como o ponto em que o gênero perde suas particularidades, assemelhando-se ao carioca. O bumbo era substituído pelo repinique e o tamborim, instrumentos que aceleraram o andamento. Em 1972, com o fim dos cordões, acabou o samba autenticamente paulista, segundo Osvaldinho. "Hoje ele não existe mais", diz. "O samba tem uma forma única, que é a carioca."

Sem lamentar as perdas do passado, Batuqueiros da Paulicéia fala das transformações do gênero. Aborda o fenômeno do samba-rock nas boates da capital, a vanguarda paulistana e o pagode romântico dos anos 1990, que, para Osvaldinho, provocou o surgimento de grupos preocupados com o "samba de raiz". A rejeição ao novo contraria a essência de São Paulo que é a mesma do samba: o poder de incorporar a diversidade.


Serviço

Osvaldinho da Cuíca. Sesc Pompeia. Choperia (800 lug.). R. Clélia, 93, 3871- 7700. dias 7 de maio (5.ª) e 9 de maio (sáb.), 21 h; 10 de maio (dom.), 18h30.

Ingressos: R$ 16


Depoimentos


"Tenho admiração profunda por Osvaldinho, um antropólogo do samba paulista. Ele é importante por atuar em três frentes: como compositor, percussionista e pesquisador. É autor de grandes sambas, tocou com muita gente e faz o resgate das memórias do samba, sobretudo o rural. Ele viveu as várias fases de transformação do gênero."

Celso Viáfora

Cantor e Compositor


"Ligado historicamente à escola de samba Vai-Vai, Osvaldinho é um grande ritmista, educador, pesquisador. Batuqueiros da Paulicéia é muito importante, porque somos carentes de uma bibliografia sobre o samba paulista, desde as suas origens. Ele é uma autoridade no assunto. Conheceu as personalidades que ergueram o gênero."

Fabiana Cozza

Cantora


"Conheço o Osvaldinho há muito tempo, ele participou de vários programas Bem Brasil. É uma figura admirável. Ele é a história do samba paulista por ter convivido com gente como Geraldo Filme, Talismã, Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro. Conhece muito o samba rural, e não tem preconceito com as novas vertentes."

Wandi Doratiotto

Músico e apresentador