(texto
da orelha do livro Antologia Poética do
Sarau do Binho. Para adquirir seu exemplar, acompanhe o sarau no Facebook)
Pedro e Adriano. Foto: David da Silva - 15.mar.2011 |
David da Silva
Toda terça-feira eu encontrava Thelonius Monk e
outros monstros da música instrumental no bar (do Sarau) do Binho. Eles me
esperavam sentados sobre as cordas das guitarras do Pedro Arnt e do Adriano
Matos. Música de primeira logo no segundo dia útil da semana. As quatro notas
cromáticas aumentadas em colcheias na canção Blue Monk me davam combustível para os outros seis dias.
Pelas
paredes do boteco ainda ecoavam os versos declamados na noite anterior. Restava
um pouco de palavras não ditas nos fundos das garrafas que haviam destilado as
emoções do sarau na lua passada.
Aquele
bar no encontro da Rua Avelino Lemos com a Rua Coronel Souza Ferraz não nos
dava a menor chance de um mal começo semanal. Da segunda-feira ficavam poemas
sobre paralelepípedos orvalhados. O melhor da poesia local em viva voz. Da
noite seguinte, a audição dos gênios do jazz. Canções macadamizadas. Era ali
onde Campo Limpo fazia esquina com New Orleans.
Primeira
vez que pus os pés no (bar do) Sarau do Binho um verso do poeta Luan Luando
ricocheteou pelas quinas das mesas, sumiu zunindo pela rua. E até hoje reboa
entre as costelas que me gradeiam o coração.
Quem
diz que sarau poético pode respirar longe dos balcões, aprendeu nada com a
literatura universal. Reunião literária em bares das quebradas da Grande Sampa
não corre risco de repetir aquele sarau dos Villains
Bonhommes em 2 de março de 1872,
quando aos berros de “merde!” Arthur
Rimbaud interrompeu um colega que
recitava – se bem que eu não questionaria uma crítica intestinal de poeta do
porte de Rimbaud...
O
enleio das palavras com as garrafas incomoda inquilinos do poder. Não à toa, ao
atacar a Inglaterra em agosto de 1940, Hitler mandou seus aviões da Luftwaffe
bombardearem seis cervejarias e nada menos que 1.300 pubs de Londres.
O
bar do Binho foi fechado por perseguição política camuflada de problema com
documentação. De certa forma o desfecho desfavorável aliviou-nos a alma. Era
constrangedor vê-lo às voltas com as exigências kafkianas da Subprefeitura.
As
portas de aço baixadas serviram de trampolim para uma itinerância poética que
muito agrada aos sarausistas – incorrigíveis batedores de pernas.
A
intolerância burocrática municipal não conseguiu provocar a diáspora literária
no Sarau do Binho.
Os
criadores de versos e demais artistas da geografia poética fundada por Robinson
Padial trazem tatuada no espírito a mensagem que Thelonius Monk deixou no seu Blue Monk: tudo é questão de tentativa e
erro, perdas e ganhos. Encontrar um lugar ao sol não vem de maneira fácil:
Trial and error, loss and gain.Finding your one place in the sunDoesn't come the easy way