Por Ary Marcos Motta
Grandes momentos são únicos, especiais, e que vão ao longo das nossas vidas formando um imenso e infindo mosaico que levaremos desta para o mundo etéreo.
O primeiro grande momento foi, certamente, aos meus 9 anos quando meu amado e saudoso pai levou-me ao Maracanã para assistir um time que viria a ser o do coração: meu querido Vascão jogar contra uma potencia chamada Santos F.C. – o meu time de coração aqui em São Paulo. Foi um 2 x 2 inesquecivel!
Este mesmo amado pai, que me formou moralmente, deixou-me um outro aprendizado - a Música, este universo intrínseco, deslumbrante, envolvente, parte vital de mim, um orgão tão importante quanto o coração.
Cresci ouvindo Gastão Formente, Noel, Pixinguinha, Patápio Silva , Donga, Sinhô, Benedito Lacerda entre tantos outros...
Outros grandes momentos vieram mas, passado algum tempo, era hora de tirar o pó que começava a se formar neste mosaico. E eis que em 1974 uma poeira imensa subiu na platéia do Teatro Opinião, logo após o encerramento da mais emblemática e emocionante apresentação musical que havia assistido.
O Importante é que a nossa Emoção Sobreviva não era apenas uma apresentação musical. Era uma forma direta de falar aos sentidos, dizer que tudo na vida é possível. Vivíamos tempos obscuros, de exceção ( ainda tenho comigo que os militares foram, sem se dar conta, os maiores produtores culturais deste pais) e aquela apresentação era uma forma corajosa - sem ser panfletária e engajada - de dizer como a música traz o lenitivo, o bálsamo das feridas abertas, e estava ali, pronta para curar e elevar nosso espírito.
Em 1996 fui ao teatro do Sesc/Pompéia, e revejo o filme novamente. Mais uma pedra lapidada se adequou ao mosaico, encravada como marco definitivo de uma época que ficaria sempre viva em nossas Mentes e Corações.
Neste ano de 2010, fui acordado por uma mensagem dizendo que algo fabuloso iria acontecer. Recebi com uma alegria imensa e com o coração exultante, a noticia enviada pela querida amiga Livia Mannini que o show haveria de continuar!
Meio que disfarçadamente, no intuito de comemorar 60 anos de vida, Eduardo dos Santos Gudin, que já traz Santo no nome, convocou novamente em São Paulo , dois Paulos - o Pinheiro e o Vanzolini, dois xarás da cidade, no nome e no Oficio Santificado. Faltam-me palavras para descrever o que se sucedeu. Só quem esteve lá no Sesc/Vila Mariana sabe o que aconteceu. Gudin, insaciavelmente cruel, e como se só isso não bastasse, traz Márcia...
... e aí meus amigos de copo e de cruz, cinestesicamente, 36 anos de pura magia tomam conta de mim encrespando o espírito que vagueia bêbado pelo espaço cósmico. Sublime demais.
E não parou por aí! Tivemos ainda a sorte e o privilegio de ouvir Ana Bernardo - sempre bela! - interpretar sambas do Vanzolini com Gudin, e ouvir as historias deste Imortal Cronista da Vida, um cientista em todos os sentidos.
Quando ainda recuperava o fôlego, Leila Pinheiro vem Prá Iluminar ainda mais o palco, nos dizendo que Sempre se pode Sonhar, e nos celebra com a magistral e imortalizada interpretação de Verde devidamente testemunhada por um dos pais, José Carlos da Costa Neto, e ainda brinda-nos ao piano, com a belissima Obrigado.
Nos outros dois dias, outros parceiros, mas sempre com a vigilância mágica desses guardiões chamados Paulos, e a presença iluminada e constante de Leila e Ana. Ao palco são chamados Toquinho, Arrigo Barnabé e Roberto Riberti.
E tome festa!!!
Ouvimos deliciosas histórias de Adoniran, Paulinho Nogueira, Elton Medeiros, Nélson Cavaquinho... tudo isso emoldurado de forma brilhante por uma outra belíssima invenção do Gudin, o Noticias Dum Brasil.
Só feras.
Uma cozinha competente e pesadíssima, com o já lendário Jorginho Cebion, e mais Raphael Moreira, Ewerton Almeida, Osvaldo Reis.
Nos vocais o competente Mauricio Sant'Ana, mais uma grata revelação e os doces em forma de mulher que cantam à beça: Karina Ninni e ILana Volcov.
Paulo César Pinheiro e Ary Marcos |
Na nossa programação especial de hoje inclui uma gravação que peguei pelo "rabo" - um bis do bis que o Paulinho Cesar Pinheiro deu quando já íamos desligar os equipamentos. Foi um tiro de misericórdia no meu já combalido coração.
Finalizando, sempre costumo dizer que o Gudin e seus parceiros têm um hábito salutar de extrair o simples das complexidades de suas composições, proporcionando prazer ao ouvir sua obra.
Meu Coração Marginal tira o chapéu para este seu Jeito de Fazer Samba que o Gudin sabe como ninguém.
Obrigado Gudin!
Obrigado Sãos Paulos Vanzolini e Cesar Pinheiro, Ana, Leila, Márcia, Neto, Riberti, Arrigo, Toquinho, Ilana, Ninni, Mauricio, Raphael, Osvaldo, Cebion, Ewerton e a você, Livia Mannini!
Salve o Samba!!!
Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiros no teatro do Sesc/Vila Mariana. Fotos: Homero (Bagda Samba) - 14.0ut.2010 |
Um comentário:
Grande Ary!
Parabéns pelo texto e pelo feito.
Lendo a gente tem idéia da emoção deste momento.
Continue carregando a bandeira do Samba com empenho e que a Nossa emoção sobreviva.
Forte abraço
Tiago Trombini
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