Samba sem conservantes nem aditivos. Curtido em madeira nobre, temperado com o perfume sublime do couro. Ao sorvermos este Samba de gole em gole, incensamos nosso espírito que vagueia rumo à felicidade suprema. Bebam, e sejam eternos.



quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eduardo Gudin, 60 anos

Por Ary Marcos Motta

Grandes momentos são únicos, especiais, e que vão ao longo das nossas vidas formando um imenso e infindo mosaico que levaremos desta para o mundo etéreo.
O primeiro grande momento foi, certamente, aos meus 9 anos quando meu amado e saudoso pai levou-me ao Maracanã para assistir um time que viria a  ser o do coração: meu querido Vascão jogar contra uma potencia chamada Santos F.C. – o meu time de coração aqui em São Paulo. Foi um 2 x 2 inesquecivel!
Este mesmo amado pai, que me formou moralmente, deixou-me um outro aprendizado - a Música, este universo intrínseco, deslumbrante, envolvente, parte vital de mim, um orgão tão importante quanto o coração.
Cresci ouvindo Gastão Formente, Noel, Pixinguinha, Patápio Silva , Donga, Sinhô, Benedito Lacerda entre tantos outros...
Outros grandes momentos vieram mas, passado algum tempo, era hora de tirar o pó que começava a se formar neste mosaico. E eis que em 1974 uma poeira imensa subiu na platéia do Teatro Opinião, logo após o encerramento da mais emblemática e emocionante apresentação musical que havia assistido.
O Importante é que a nossa Emoção Sobreviva não era apenas uma apresentação musical. Era uma forma direta de falar aos sentidos, dizer que tudo na vida é possível. Vivíamos tempos obscuros, de exceção ( ainda tenho comigo que os militares foram, sem se dar conta, os maiores produtores culturais deste pais) e aquela apresentação era uma forma corajosa - sem ser panfletária e engajada - de dizer como a música traz o lenitivo, o bálsamo das feridas abertas, e estava ali, pronta para curar e elevar nosso espírito.
Em 1996 fui ao teatro do Sesc/Pompéia, e revejo o filme novamente. Mais uma pedra lapidada se adequou ao mosaico, encravada como marco definitivo de uma época que ficaria sempre viva em nossas Mentes e Corações.
Neste ano de 2010, fui acordado por uma mensagem dizendo que algo  fabuloso  iria acontecer. Recebi com uma alegria imensa e com o coração exultante, a noticia enviada pela querida amiga Livia Mannini que o show haveria de continuar!
Ary Marcos parabeniza Eduardo Gudin
Gudin 60 anos
Meio que disfarçadamente, no intuito de comemorar 60 anos de vida, Eduardo dos Santos Gudin, que já traz Santo no nome, convocou novamente em São Paulo, dois Paulos - o Pinheiro e o Vanzolini, dois xarás da cidade, no nome e no Oficio Santificado. Faltam-me palavras para descrever o que se sucedeu. Só quem esteve lá no Sesc/Vila Mariana sabe o que aconteceu. Gudin, insaciavelmente cruel, e como se só isso não bastasse, traz Márcia...
... e aí meus amigos de copo e de cruz, cinestesicamente, 36 anos de pura magia tomam conta de mim encrespando o espírito que vagueia bêbado pelo espaço cósmico. Sublime demais.
E não parou por aí! Tivemos ainda a sorte e o privilegio de ouvir Ana Bernardo - sempre bela! - interpretar sambas do Vanzolini com Gudin, e ouvir as historias deste Imortal Cronista da Vida, um cientista em todos os sentidos.
Quando ainda recuperava o fôlego, Leila Pinheiro vem Prá Iluminar ainda mais o palco, nos dizendo que Sempre se pode Sonhar, e nos celebra com a magistral e imortalizada interpretação de Verde devidamente testemunhada por um dos pais, José Carlos da Costa Neto, e ainda brinda-nos ao piano, com a belissima Obrigado.
Nos outros dois dias, outros parceiros, mas sempre com a vigilância mágica desses guardiões chamados Paulos, e a presença iluminada e constante de Leila e Ana. Ao palco são chamados Toquinho, Arrigo Barnabé e Roberto Riberti.
E tome festa!!!
Ouvimos deliciosas histórias de Adoniran, Paulinho Nogueira, Elton Medeiros, Nélson Cavaquinho... tudo isso  emoldurado de forma brilhante por uma outra belíssima invenção do Gudin, o Noticias Dum Brasil.
Só feras.
Uma cozinha competente e pesadíssima, com o já lendário Jorginho Cebion, e mais Raphael Moreira, Ewerton Almeida, Osvaldo Reis.
Nos vocais o competente Mauricio Sant'Ana, mais uma grata revelação e os doces em forma de mulher que cantam à beça: Karina Ninni e ILana Volcov.

Paulo César Pinheiro e Ary Marcos
Bem, meus amigos Alambiqueiros. Finalmente pude realizar um sonho - sonho novo, é verdade - mas um sonho que se materializou ciberneticamente com o empenho de minha já citada amiga, Livia Mannini, que conseguiu junto ao Sesc a liberação para que a Radio Samba do Alambique pudesse transmitir para todo o planeta esta outra obra de arte criada por estes imortais.
Na nossa programação especial de hoje inclui uma gravação que peguei pelo "rabo" - um bis do bis que o Paulinho Cesar Pinheiro deu quando já íamos desligar os equipamentos. Foi um tiro de misericórdia no meu já combalido coração.
Finalizando, sempre costumo dizer que o Gudin e seus parceiros têm um hábito salutar de extrair o simples das complexidades de suas composições, proporcionando prazer ao ouvir sua obra.
Meu Coração Marginal tira o chapéu para este seu Jeito de Fazer Samba que o Gudin sabe como ninguém.
Obrigado Gudin!
Obrigado Sãos Paulos Vanzolini e Cesar Pinheiro, Ana, Leila, Márcia, Neto, Riberti, Arrigo, Toquinho, Ilana, Ninni, Mauricio, Raphael, Osvaldo, Cebion, Ewerton e a você, Livia Mannini!
Salve o Samba!!!
Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiros no teatro do Sesc/Vila Mariana.
Fotos: Homero (Bagda Samba) - 14.0ut.2010

Um comentário:

Unknown disse...

Grande Ary!
Parabéns pelo texto e pelo feito.
Lendo a gente tem idéia da emoção deste momento.
Continue carregando a bandeira do Samba com empenho e que a Nossa emoção sobreviva.

Forte abraço
Tiago Trombini