quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
A MARCHA SOBRE ATIBAIA
-O General está prá chegar! informa um. A ansiedade e excitação tomam conta de todos e a tomada está próxima de acontecer, não ficará pedra sobre pedra e a marcha é inevitável, a cidade de Atibaia não seria mais a mesma.... derrepente ante a já não sei quantas rodadas de energizantes, que seriam o alimento fundamental para os dias seguintes daquilo que seria a maior batalha de todos os tempos, ouve-se ...1,2 ..1,2...1,2...1,2...1,2....1,2..1,2. Batalhão, sentido! Ordinário, descansar!
- " Vou apresentar o meu batalhão..." pronto! estava declarada a tomada do poder pelo samba sob às ordens do General Tuco.
Alambiqueiros de todos os sentidos,
Esperei exatos 18 dias desde o fim da marcha sobre Atibaia para prestar esta homenagem ao dia Nacional do Samba, hoje 02/12 e com dose dupla ( veja postagem anterior que dá sentido a esta) e proclamar outros 3 dias como dias Nacional do Samba, o 12 de novembro pala chegada ao sitio arqueológico de Atibaia e o13 e 14 pela celebração, senão para a maioria dos sambistas mas pelo menos para aqueles que tiveram a sorte e a graça de ter participado desta Marcha.
Abstenho-me de qualquer exagero aqui neste relato, até porque esvaziei todo o alcool consumido nestes tres dias a fim de que minha memoria pudesse soberanamente descrever o que jamais esqueceremos.
A primeira providencia foi dar folga ao Galo que anunciaria a chegada das Alvoradas e substituiu-se o Galo da Madrugada por tamborins, pandeiros, cavacos, violões, surdo e um coral unissono de quase duzentas vozes embargadas, emocionadas, embriagadas pelas noites infindas anunciando a cada samba um novo dia e irmanadamente, irradiava uma mensagem embutida nos corações, de que um mundo melhor é possivel.
Vai ser tarefa dificil tentar descrever com a exatidão dos matematicos o que aconteceu nestes tres dias de folia em que o dia tinha 48 horas e o cansaço era parte da harmonia.
Abro aqui um parentesis para relatar tres momentos sublimes demais, a Roda de Choro no Quartel General, a Seresta do Roberto Seresteiro no refeitorio da CIA. e a seção de canções do Batatinha que generosamente a maravilhosa Adriana Moreira proporcionou ao Batalhão na area de descanso das Tropas. Foi de fazer Frade de Pedra chorar.
A cada roda de samba que acontecia, outras já se preparavam para dar inicio ocupando toda a vastidão do terreno tomado, tinha sambista por milimetro quadrado. Eram rodas de Samba, rodas de amigos, rodas de namorados e futuros namorados, rodas de uma traição aos costumes modernos e modorrentos dos dias não vividos por aquela população feliz e emocionada com as Ordens dadas pelo General Tuco ante a tomada do poder.
Num breve comentario que fiz à minha amiga Cris e ao meu Amigo Andre, disse que seria muito dificil frequentar rodas de samba daquele dia em diante sem que, cinestesicamente, os dias de Atibaia se faça referencia em nossa memória com suas imagens, sons e cheiros. Mal terminava um pronunciamento sambistico num canto, e a magistral Adriana Moreira iniciava outro noutra gleba do latifundio e numa sequencia mágica, Roberto Seresteiro, ensaiava outra palestra musical que parecia não ter fim, e era assim até que terminasse o repouso do General que logo voltava ao Seu Batalhão para fundamentar mais ainda a Tomada do Poder da provincia de Atibaia que curvou-se diante do Batalhão e de um séquito ávido por poder, o poder do Samba.
Salve O Tuco e seu Batalhão, salve rapaziada de todos os cantos do Brasil às inumeras comunidades de Samba, Salve Noeli, batalhadora incansavel, salve a todos nós que fizemos destes tres dias, algo inesquecivel para nossas mentes e corações.
Salve o Samba.
BATALHÃO, AVANTE!
O Destampamento da Garrafa irá exalar um aroma Sublime, peculiar do Samba de Alambique. É com muito prazer e orgulho que apresento-lhes um grande sambista de SP, que recentemente lançou seu primeiro trabalho em cd, o nosso querido amigo Tuco. Nascido Fernando Pellegrino Rodrigues Luzirão, excelente cavaquinista dono de uma voz portentosa e peculiar, embuido da Sua Patente de Sambista resolve em maio de 2009 "arregimentar" um batalhão que passou oficialmente a chamar-se BATALHÃO DE SAMBISTAS. Convocou os melhores das melhores Cia. de Tropas de Choque do Samba. Dos tempos do Gremio Morro das Pedras, trouxe os amigos Jorge Garcia, Alfredo Castro e Donga - suas armas:Tamborim, Agogo, Reco Reco, Cuica e Surdo, levados com precisão de armeiros, marcando o passo e compasso firme e pesado do Batalhão. Para dar balanço e arte, trouxe do QG de Campinas o soldado Roberto Amaral lotado na CIA. Nucleo de Samba Cupinzeiro - sua arma: Pandeiro. "Falta mais balanço neste Peso"pensou" Tuco e convocou de imediato um ritmista que já acompanhou Generais como Zé da Velha, Silvério Pontes e participou de Esquadras como Época de Ouro: -"Soldado Rafael Toledo, um passo à frente !" Pronto! Retaguarda montada, era a vez da Artilharia Pesada e que sorte tem este General Tuco! Tirou das trincheiras, onde aprendeu a arte do Violão 7 Cordas influenciado por Dino 7 Cordas, o excelente Soldado João Camareiro que no dia da convocação geral junta-se ao amigo de tantas batalhas, o soldado Pita Jr que traz na essência do Violão 6 cordas o tiro certo da base harmonica do Batalhão, este soldado que tanto encantou um certo Sargento chamado Nelson. Para completar o Batalhão e a Artilharia Pesada, vem a convocação de um Armeiro cuja habilidade no manejo da sua arma, o cavaco, vem de mestres como Luciana Rabello, Isaias e tantos outros bons cavaquinistas. Este soldado tambem esteve lotado no QG de Campinas, na CIA. Nucleo de Samba Cupinzeiro, trata-se de Lucas Arantes. Muito Bem, Batalhão montado e coisa e tal e é chegada a hora de desbravar terras, derrubar limites e a primeira parada é em BH - Palacio das Artes e nada mais parou a marcha do Batalhão que nesta cruzada só encontravam amigos e carregava na Bandeira a antitese da guerra consumada em encanto e beleza e deste advento vem a ideia de se fazer um memorial desta Cruzada. Nasce já com jeito de Antologico, PESO É PESO, trabalho esmerado, e como bem disse Marilia Trindade Barbosa, um verdadeiro Garimpo na Arqueologoia do Samba o qual recomendo e reputo como obrigatorio a todo Sambista que se preze.
No disco além de sambas ineditos em sua maioria, tem composições de Ismael Silva, Cartola, Bide, Nelson Cavaquinho, Chico Santana, Mijinha, Monarco, Manacea, Nelson Sargento, Paulo da Portela, Chatim entre outros, e ainda por cima se isso só não fosse muito, tem as participações luxuosas de Santa Cristina Buarque a Padroeira dos Sambistas, Monarco, Nélson Sargento e recheado de historias muito legais.
Avante, à primeira loja para adquirir esta preciosidade. 1000 flexões de multa para quem não adquirir esta Pérola do nosso Samba.
Nestes Quarteis voces poderão encontrar o cd :
http://www.tratore.com.br/pop.asp?id=7898515690006&imagem=7898515690006.jpg&titulo=Peso
Até a próxima. Axé!
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Honraria Sambística a um certo Noel e a Adoniran de tal
O Ministério do Samba, regiamente conferido por esta Republica Etílica-Federativa, e estabelecido nesta Comarca,
Faz saber e outorga:
ao Sr. Noel de Medeiros Rosa, um certo Noel Rosa, carioca nascido no bairro de Vila Izabel - Estado da Guanabara - Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, aos 11 dias do mês de dezembro do ano de 1910 e entregue às macias Mãos Divinas aos 04 dias do mês de maio do ano de 1937;
e ao Sr. João Rubinato, um certo Adoniran Barbosa, nascido no districto de Valinhos, Estado de São Paulo, aos 6 dias do mês de agosto do ano de 1910, e entregue à sorte e cuidado dos seres celestiais aos 23 dias do mês de novembro do ano de 1982,
o Titulo de Doutores Honoríficos do Samba
em reconhecimento por suas Obras & Feitos, Títulos que se farão valer por todo o território terrestre Ad Infinitum.
Daremos por abertos os trabalhos musicais, cervejísticos e cachacísticos às 22 horas e trinta minutos do dia 26 de novembro do ano da graça de 2010.
O Púlpito estará montado no Centro Cultural Popular Consolação, um certo CCPC soberbamente instalado à Rua General Jardim, numero 269 - Centro da Capital Paulistana.
Para tal evento será cobrada na entrada a módica quantia de 10,00 reais.
No Butiquim do local serão vendidas garrafas de cerveja servidas a temperaturas dignas da Sibéria, e acepipes a valores bastante razoáveis.
O Pronunciamento terá transmissão radiofônica pela PRK-30 Rádio Samba de Alambique
E Tenho Dito
Ary Marcos P. G. Motta
Escrivão-mór desta bagaça
Para chorar de alegria e de saudades do Copinha
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
COMUNICADO OFICIAL
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Adeus Ovídio Brito, Mestre da Cuíca
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Desmarque todos os seus compromissos!
É com grande satisfação que vejo essa rapaziada chegar a esta marca.
Essa turma faz um samba enfezadíssimo, e além do mais são compositores de mão cheia.
Encontrarei todos vocês lá na Grande Festa Em Nome do Samba.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
12 de novembro Santificado

quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Glória no Alambique
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Glória Bonfim e Luciana Rabello - Foto: Mônica Ramalho |
terça-feira, 19 de outubro de 2010
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Eduardo Gudin, 60 anos
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Paulo César Pinheiro e Ary Marcos |
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Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiros no teatro do Sesc/Vila Mariana. Fotos: Homero (Bagda Samba) - 14.0ut.2010 |
domingo, 26 de setembro de 2010
Há 10 anos, o Violão Vadio emudeceu
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Em Nome do Pai, do Filho e...
A rapaziada do grupo Em Nome do Samba pisará o terreiro do CCPC com um repertório que passeia por Cartola, os 4 Paulos (o da Portela, o da Viola, o Vanzolini e o Pinheiro), pelos 3 Wilsons (o Batista, o Moreira, e o Das Neves).
Tem também Adoniran, Candeia, as Cristinas (Teresa e Buarque), Zé Kéti, Elton Medeiros, Monarco, Donga, Ismael e Noel, os Chicos (o Buarque, o Santana), etc e tal.
Venham conferir a bagunça que essa rapaziada faz hoje, a partir das 21h na
Rua General Jardim, 269.
A entrada é pra ninguém reclamar - R$ 5,00.
A Rádio do Alambique transmite ao vivo.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Butecagem com Discotecagem
Alambiqueiros de todas as Ordens e Credos!
Hoje, desde as 9h (um pouco mais cedo que o habitual) está rodando na Rádio Samba de Alambique uma programação para embebedar todos os sentidos.
Esta 5ª-feira está exclusivamente dedicada a Lupicinio Rodrigues, que completaria 96 anos, e Zé Kéti, que faria 89.
Logo mais à noite, o Centro Cultural Popular Consolação (CCPC) abre suas portas e o coração para quem quiser chegar com seu instrumento e montar a Roda.
Estaremos também fazendo a Butecagem com Discotecagem. O amigo Alambiqueiro escolhe seus Sambas e Choros preferidos, e a gente Destampa a Garrafa com o maior prazer na Radio do Alambique, para jorrar as Cachaças ao vivo para toda a Galáxia.
A nossa confraternização sonora começa às 20h, e a entrada é gratuita.
Ah sim!, cerveja sibericamente gelada e cachaçinhas que dizem “Uai, sô!!!”.
O apagar das velas de Zé Keti na Boca do Lixo paulistana
“Estive com Zé Kéti em 1991. Fui fotografá-lo para o livro “Senhoras e Senhores”, parte de uma bolsa que ganhei da Fundação Vitae. Foi em 1991, quando ele decidiu mudar-se para São Paulo. Morava de favor no quartinho de um minúsculo apartamento da Rua Augusta, cedido por uma amiga que batalhava até a madrugada. Durante o dia, estendia na cama o paletó xadrez para desamarrotá-lo enquanto lustrava os sapatos. Por volta da meia noite saía para os botequins da Boca do Lixo, onde cantava para os boêmios as músicas que compôs, em troca da sobrevivência.”
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Hoje é dia de Santo Aldir

O compositor Aldir Blanc é um deles.
Quando ele morrer não vai pro céu, “mas já não vivo no chão”, afirmou. E disse isso em forma de samba, que é a melhor maneira de se dizer as coisas.
Hoje festejando 64 anos, Aldir Blanc é homenageado com programação exclusiva na Radio Samba de Alambique.
A programação começou às 10h da manhã e vai até o último freguês.
Clique na radiola ao lado, e boa viagem.
Sirvo aqui, como petisco aos alambiqueiros de todos os quadrantes, uma das raras composições onde Aldir Blanc fez sozinho a letra e a melodia de um samba.
Mãos de Aventureiro
(Aldir Blanc)
Eu pensei que pudesse largar o batuque e a Brahma
Chegar cedo em casa, vestir o pijama
Ir cedo pra cama, pra quando acordar
Sorrindo fazer teu café, te levar de surpresa
Regar o jardim, voltar pra empresa
Pra teres um dia orgulho de mim
Ai, meu Deus...
Mas a tarde começa a cair e eu perco o sossego
Sentir bater no meu sangue de negro
O chamado do samba e do botequim
Quando volto finges dormir
E manténs no semblante completa inocência
Mas a minha vista - apesar de turvada -
vai além da aparência
Minhas mãos de rude aventureiro
Vão em busca do teu travesseiro
E a fronha molhada me diz que choraste outra ausência
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
O Pandeiro imortal do Jackson

… falar de Jackson é tão fácil que se torna dificil demais para mim.
Sou ligado à vida e à obra do Jackson do Pandeiro pela devoção ao artista, e também porque minha data de nascimento é justamente o dia em que o ritmista imortal pendurou seu pandeiro.
Neste 31 de agosto de 2010, Jose Gomes Filho, o Jackson do Pandeiro, completaria 91 anos.
De origem simples, filho de Flora Mourão, cantora de coco nas feiras livres do sertão paraibano. Queria tocar sanfona, mas era um instrumento muito caro. Foi então que sua mãe lhe deu um pandeiro. Logo passou a superar os melhores pandeiristas da época.
Mudou-se para Recife, despertando a atenção do diretor da Rádio Jornal do Comercio de Recife. Formou dupla com aquele que seria seu maior compositor, R

Como era fã dos atores de faroeste, José Gomes Filho adotou o pseudonimo de Jack. Nas brincadeiras de mocinho e bandido, gostava de ser chamado Jack Perry. Comprou chapelão de palha, revólver de madeira. Quando cresceu e teve de ajudar a mãe, deixou a brincadeira mas conservou o apelido – Jack do Pandeiro. Mas, por orientação do diretor da emissora, optou por Jackson - era mais sonoro.
Interpretava com muita facilidade todos os tipos de ritmos.
Chegou inclusive a gravar o samba Pisei num Despacho, de Geraldo Pereria em parceria com Elpidio Viana (Eldorado GRA. 61228414). O notável intérprete da música nordestina, fora de suas caracteristicas, entrosava-se perfeitamente com a obra e o espírito de Geraldo Pereira.
Ressaltava-se alí a grande diferença de Jackson do Pandeiro com os demais artistas, a sua famosa divisão das sílabas.
Jackson foi campeão de muitos dos velhos Carnavais. Em 1955 “arrebentou” com Vou Gargalhar, de Edgar Ferreira (Copacabana - CLP2004).
Sua consagração como o primeiro ídolo de massas do Brasil, não apagou seu amor pela gente humilde onde ele tinha suas raízes. Volta e meia seus músicos davam pela sua falta. Iam encontrá-lo em alguma bodega bem simplória, cantando de graça.
Sua empatia com o público era fenomenal. O paraibano franzino se agigantava no palco. Certa feita, num show no Atêrro do Flamengo, diante de uma multidão, disse com naturalidade sertaneja: “Isto aqui tá parecendo Limoeiro!”, referindo-se à cidade do agreste nordestino, louvada no ano 1953 por Edgar Ferreira com Forró em Limoeiro.

Jackson adorava fazer shows em Brasilia. É dele a primeira música em homenagem à então recém-fundada capital federal. Em parceria com João do Vale fez o baião-de-viola Rojão de Brasilia. Nesta composição, Jackson gravou com poucas percussões, e acompnhando-se ao violão, provando que, além de ritmista insuperável, era também um hábil violonista.
Por infeliz coincidência, foi exatamente em Brasília que Jackson do Pandeiro desmaiou no aeroporto. Ja tinha sofrido um infarte dias antes. O sanfoneiro Severo, que o acompanhava há anos, havia advertido Jackson que fosse cuidar da saúde. Mas o Rei do Ritmo insistiu em cumprir todos os compromissos da agenda.
Foi numa triste tarde de domingo, em 10 de julho de 1982, por volta das 17h15 que Jackson deu seu último suspiro no Hospital de Base de Brasilia.

Levou consigo para a Eternidade o coco, o chote, o baião, as marchas carnavalescas, o frevo, o rojão, os pontos de macumba, a alegria.
O brasileiro Jackson do Pandeiro estará para sempre no coração das pessoas simples do povo. Neste 31 de agosto vamos cantá-lo e louvá-lo nas mesas dos botequins, batucar seus sucessos nos balcões.
Jackson imortal do Pandeiro está conservado nos tonéis sagrados do Samba de Alambique.
Alguns “causos” do Jackson
Por David da Silva
Certa feita em Campina Grande, já ganhando uns cobres com música, Jackson foi escalado para acompanhar o pianista Jaime. Jackson nunca tinha visto um piano de frente. Quando moleque em Alagoa Grande, passando pela calçada da casa do juiz local, ele ouvia a filha do magistrado aprendendo piano. Mas não via nada – só o som das notas tecladas. Não fazia a menor idéia de como seria o instrumento.
Em Campina Grande, ao ver “o bicho” cara a cara, feito bode arredio Jackson refugou:
Num tá vendo, essa goteira aí – tongo, tingo, tingo... Ah, num vai dar!
Foi preciso o pianista dar antes uma demonstração das possibilidades ritmicas do instrumento para Jackson ceder: “Ahhhh, então a jogada é diferente!”
Jackson tinha plena noção da sua genialidade:
- Eu não queria ser quinto ou quarto baterista. Por causa do suingue, um fox meio ligeiro que tinha antigamente, eu deixei de tocar bateria.Eu queria ser um baterista que todo mundo se admirasse. Eu toda vida gostei de ser assim. Não gostava de ser o último lugar. Eu gostava de ser de segundo pra primeiro, e tal. Então era um baterista que só gostava de tocar a nossa música. Então abandonei e fui treinar um pouquinho de pandeiro. E sempre cantando. Cantando samba, cantando marcha de arrasta-pé, cantando coco, essa coisa toda.
Poucas horas antes de morrer, Jackson ainda mantinha seu jeito matreiro, bem humorado. Quando a nutricionista Eneida lhe leva a comida inssosa do Hospital de Base, o diabético Jackson pergunta: “Não tem aí uma feijoadazinha e um açúcar pra botar no meu suco?”
Cavalho velho, capim novo, diz a inteligência popular. Jackson seguiu o conselho à risca – e foi sua desgraça. Por causa dessa presepada, Almira rompeu o casamento com Jackson.
Em 1966 fazia dois anos que Jackson e Almira Castilho haviam-se casado no cartório (já viviam juntos há 10 anos). Moravam num belo apartamento da rua Cândido Mendes, no bairro da Glória, no Rio. Agenda de shows sempre cheia, dinheiro à vontade. Mas...
Na cama as coisas não iam tão bem para o casal. Jackson, com 50 anos incompletos, sentia seu apetite sexual ser corroído pelo diabetes, e pela juventude gasta em muitos puteiros e cachaçadas.
Pensou que o problema poderia ser Almira. Tantos anos seguidos com a mesma mulher...
Na casa deles vivia uma afilhada do músico – Clenice, 19 anos, morena, baixinha, bonitinha... Do jeito que Jackson aprecia.
Numa bela manhã, Almira, que dormia até tarde, sai mais cedo da cama e vai até a cozinha. Encontra seu velho Jackson na maior agarração com a afilhadinha fogosa. Tremendo fuzuê.
Pra piorar, Almira descobre que a danada da Cleonice colocava sonífero no seu lanche noturno. Com isto Almira ferrava no sono ampliando o bem-bom matinal de Jackson.
O mestre na opinião de outros mestres
João Bosco:
"Sempre fui fascinado por ele. A gente tinha um projeto de fazer vários shows juntos pelo País, mas acabou não dando certo por causa da falta de grana. Tive a oportunidade de dizer ao Jackson o quanto admirava o seu trabalho. Fiz uma música em homenagem a ele Acho que a música dele tem de ser mais divulgada, principalmente para os músicos mais jovens."
Aldir Blanc:
"Se algum músico pode ser chamado de seminal no Brasil é Jackson do Pandeiro. Ele foi o ponto de partida e uma referência para muitos músicos que estão hoje aí. Os meus dois parceiros, Guinga e João Bosco, são um exemplo disso. Eles foram influenciados diretamente pelo trabalho de Jackson, que, além de ótimo músico, era um extraordinário letrista."
Observação: Aldir Blanc fez letra para música de Guinga intitulada Influência do Jackson, gravada por Leila Pinheiro (disco Na Ponta da Língua, 1998). Leia a letra aqui
Guinga:
"É impossível um compositor que ame a música brasileira não ter o trabalho de Jackson como referência.”
Tom Zé:
"No Nordeste, os três principais alimentos são a farinha, a carne-seca e o ritmo, que é um verdadeiro deus e Jackson o nosso sacerdote.”

sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Eu já me decidi!
O dia inicia-se com um dilema muito legal.
Uns reclamam por falta de opções. Outros comemoram por opções demais.
É o nosso caso.
Nós, Sambistas, devemos sempre agradecer aos Santos & Orixás por tanta fartura.
Vejam só:
Nas quebradas da Vila Buarque

E com transmissão ao vivo da Rádio Samba de Alambique!
Nas curvas do Tatuapé
Em outro ponto da cidade, não muito longe da primeira opção, a rapaziada dos Amigos do Samba e do Peito também não está para brincadeira.
Ajeita a pancadaria lá nas curvas do Tatuapé, no Diretoria Art Goumert - Rua Cesário Alvim, 400 - a partir das 21h30.
E aí, gente boa!
O que fazer? Boa pergunta...
Bom, eu já decidi que vou encontrar vocês lá.
Lá onde? Nos dois lugares, ué!
Como? Simples.
Um termina às 23h, e o outro só Deus sabe.
Só Samba de Primeira.
Ôôô povo abençoado!
Até logo mais à noite.
Ary Marcos

quinta-feira, 20 de maio de 2010
Revelações de uma mulher de verdade
Que saudades da Amélia!
Aquilo, sim, é que era mulher”
Mário Lago – Ataulfo Alves
Destilando idéias com amigos no Bar do Carioca, entrou na nossa conversa o Samba do Arnesto, do imortal Adoniran Barbosa. Que Arnesto existe em carne e osso, já contei aqui.
No clima dos bastidores de sambas eternos, bom saber que também existiu de verdade a famosa Amélia do samba de Mário Lago e Ataulfo Alves.
Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som (MIS) Ataulfo revelou o DNA desta fantástica personagem do Samba. Contou que Mário Lago lhe deu uma letra toda rimada no pretérito imperfeito sobre uma dona de casa que “lavava, engomava, cozinhava, não reclamava...”. Por exigências de melodia e ritmo Ataulfo fez algumas alterações na letra, e aumentou de 12 para 14 versos. Mário Lago bronqueou : “Isso aí não é meu. Você alterou tudo o que eu escrevi”. E renegou a musa que ele próprio havia concebido.
Mas, Ataulfo levava fé naquela história da mulher que “achava bonito não ter o que comer”. Ofereceu o samba a uns e outras – rejeição total. “Que me apareça alguém que diga que quis gravar. Mentira. Ninguém. Ninguém quis. Daí resolvi eu mesmo gravar”, disse o sambista com seu jeito enfático no histórico depoimento ao MIS em 17 de novembro de 1966, e transformado no disco Eu, Ataulfo em 1969, um ano após sua morte. A fala dele aqui não é transcrição; reproduzo de livre memória o que ouvi encantado aos 12 anos de idade.
E já que usei a palavra “encantado”...
Sem a menor vaidade
Foi no subúrbio carioca, no bairro Encantado, zona norte do Rio, onde viveu a inspiradora do legendário samba Ai, Que Saudades da Amélia!
Amélia dos Santos Ferreira viveu até os 91 anos, quando uma pneumonia foi matá-la dentro de sua casa no dia 27 de julho de 2001. Nesta época ela havia se mudado para a zona oeste do Rio, em Realengo.
Esta mulher foi casada desde seus 14 anos de idade com o tipógrafo Pedro Prisco Ferreira. Em 45 anos de vida conjugal o casal botou 13 filhos no mundo. Para sustentar tantas bocas, Amélia fazia faxina e lavava roupa na casa de dona Eugênia, mãe da cantora Aracy de Almeida.
Aracy tinha um irmão baterista, o Almeidinha. O rapaz admirava a disposição de Amélia para o trabalho, sem nunca reclamar de nada. Sempre que a via na labuta, Almeidinha sacava o pandeiro e cantarolava: “Amélia não tem a menor vaidade / Amélia é que é mulher de verdade / Pega a roupa e lava à vontade".
Este caso chegou aos ouvidos do ator e poeta Mário Lago. O resto da história você já leu no início da postagem.
Só falta eu te contar que Ataulfo gravou Ai, Que Saudades da Amélia! no final de novembro de 1941, e o disco foi lançado em janeiro de 1942. Sucesso estrondoso no Carnaval daquele ano. Ataulfo gravou com o conjunto Academia do Samba. Sabe quem o acompanhou no cavaquinho? O lendário Jacob do Bandolim...
Só não sei ainda se Ataulfo ou Mário deram alguma graninha para Amélia, a título de gratidão pela inspiração que tanto lhes rendeu.
Procuro por uma edição da extinta revista Manchete do ano de 1976, onde há uma reportagem sobre Amélia, fotografada por Carlos Humberto TDC com texto de Atenéia Feijó.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
SAMBA NO CEU
Querido Walter, vá em paz e obrigado pela Obra e Exemplo de vida que deixaste, temos certeza que seus amigos nesta hora aí estão arrastando a cadeira e abrindo a Roda e pedindo , Oha aí.
Descanse em Paz!